Polícia

Caso Ana Clara: 'Quero saber se ele vai conseguir viver com isso'

Mãe da vítima se diz desacreditada da justiça. Foto: Pedro Conforte

Foi enterrada no Cemitério São Francisco Xavier, no bairro de Charitas, em Niterói, na tarde desta quarta-feira (3), a pequena Ana Clara Gomes Machado, de 5 anos, morta nesta terça na comunidade do Monan Pequeno, em Pendotiba.

Emocionada, Cristiane Gomes, mãe da criança, diz não acreditar na Justiça:

"Daqui a pouco o policial que atirou estará na rua e de farda novamente. Minha filha morreu na covardia com tiros de fuzil na porta de casa"

Amigos e familiares da vítima desembarcaram de dois ônibus na porta do cemitério. Na camisa de cada um estava estampada a foto da Ana Clara, como forma de homenagem à criança. O velório teve gritos por justiça.

O enterro estava programado para ocorrer às 14h, mas sofreu atraso e foi realizado uma hora depois.

"Eles chegam no morro dando tiro e não tem tráfico lá. Eu quero que a morte da minha sobrinha tenha justiça", lamentou a tia da pequena.

De acordo com a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), um inquérito foi instaurado para apurar a morte de Ana Clara Machado. Um policial militar, lotado no 12º Batalhão, é acusado de efetuar o disparo que matou a menina. Ele está preso desde a tarde desta terça (2).

As armas dos policiais militares que participaram da ação foram apreendidas para confronto balístico. Os agentes realizam diligências em busca de evidenciais que ajudem a identificar a origem do disparo que atingiu a vítima e que comprovem se houve confronto no local e quaisquer outros que sirvam para esclarecimento dos fatos.

Segundo a Polícia Civil, dando continuidade às investigações, houve a comprovação de contradições nas declarações dos policiais militares que, comparando com as declarações das demais testemunhas e da perícia realizada no local, resultaram na prisão em flagrante do PM que efetuou os disparos.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que o PM preso já foi conduzido à Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói.

Manifestação

Amigos e familiares da vítima fizeram nova manifestação pedindo justiça por Ana Clara. Foto: Pedro Conforte

"Ele estava com medo de sujar a farda dele", disse a mãe de criança, durante o protesto realizado após o enterro.

Amigos e familiares da pequena Ana Clara saíram do enterro e fizeram uma manifestação na Estrada Francisco da Cruz Nunes, na tarde desta quarta-feira (3), no Largo da Batalha.

Aos gritos de "Ana Clara" e "Justiça", cerca de 50 pessoas caminharam pela via, que precisou ser fechada. Equipes do 12° Batalhão de Polícia Militar de Niterói acompanharam o ato.

A mãe da criança, Cristiane Gomes, participou pintada de vermelho, representando o sangue da menina. De acordo com ela, a filha tinha o sonho de salvar vidas.

"Ana Clara era uma menina amada por todos, companheira do irmão de dois anos. Ela disse que queria salvar vidas e morreu salvando a vida do irmão"

De acordo com Cristiane, a criança foi socorrida e levada para o hospital ao lado do autor do disparo.

"Ele estava com medo de sujar a farda com o sangue dela. Eles mataram minha filha, ela morreu no meu colo, do lado do assassino. Eu quero saber se ele vai conseguir deitar, encostar a cabeça no travesseiro e viver com isso", disse emocionada.

Na manhã desta quarta-feira, uma outra manifestação fechou a via e impediu a circulação dos ônibus, que permanece suspensa.

Com Layane Ramos

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